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Reflexão

11.03.11, Abigai

É madrugada. Procuro dormir mas o sono não chega.

Aproveito o momento.

As ideias na minha mente atropelam-se e o desassossego invade-me lentamente.

Então escrevo.

Tento colocar no papel estas reflexões sem nexo, dar-lhes algum sentido.

Sentido.

O sentido que buscamos na vida?

Mas que sentido é esse?

Preciso de sentir-me útil, sentir que apesar da minha pequenez, a minha presença neste mundo imenso e complexo, irá deixar alguma marca, alguma lembrança, algum pensamento.

Sentir que existo.

Sentir-me importante, imprescindível.

Será que todos sentimos isso? Ou estarei a ser utópica? Egocêntrica?

Sei que sou amada e acarinhada pela minha família, não nutro qualquer dúvida em relação a isso.

Mas confesso que não chega, não me satisfaz plenamente.

Confesso que me falta algo.

Embora não ache isso propriamente saudável nem tão pouco gratificante, admito ser "viciada" no trabalho. O exercício da minha profissão ocupa-me os pensamentos em demasia. Quando não estou a trabalhar, penso no que poderei fazer quando lá chegar, planeio projectos e elaboro mentalmente processos de melhoria. Construo na minha mente novos planos, idealizo novos procedimentos, novas soluções.

Costuma-se dizer que trabalhamos para viver. Não sei. Diria talvez que vivo para trabalhar.

Não me parece em nada saudável, nem do ponto de vista físico - por vezes duvido mesmo da minha sanidade mental - , nem do ponto de vista familiar.

A minha carreira ocupa-me de tal forma o pensamento, que frequentemente sinto-me totalmente alheia ao que se passa à minha volta.

Sei que não está certo. Reconheço que é errado e obsessivo colocar o trabalho em primeiro plano. Admito que representa um problema mas não consigo evitar, não consigo encontrar forma de o contornar, de o resolver.

Está a tornar-se obsessivo. Tento contrariar esta tendência e viver mais a vida.

Tento.

Diria ter uma explicação, ou talvez não passe de uma desculpa esfarrapada, uma forma de me enganar a mim própria.

A verdade é que quando estou no meu posto de trabalho, quando elaboro projectos ou implemento melhorias significativas, sinto-me competente, completa, sinto que faço a diferença, sinto-me insubstituível - embora tenha perfeita consciência que ninguém é insubstituível - , e não penso nos "outros problemas".

Não penso nas crescentes limitações físicas que ultimamente tenho sentido.

Não penso em todas as tarefas domésticas que me esperam em casa e que tanto me custam.

Não penso nas dificuldades do G. e na minha impotência perante os desafios que se avizinham.

Não penso no futuro pouco risonho que se aproxima.

Sinto-me incompetente como mulher e esposa, sinto-me incompetente como mãe, e preciso, tenho necessidade, uma sede inabalável e incontornável, de sentir-me competente em alguma coisa.

Não é de forma alguma uma confissão depressiva, é acima de tudo uma tentativa de análise desta obsessão pelo trabalho. Mas provavelmente não passa de uma desculpa, de uma forma de justificar, de enganar-me.

Na realidade, muito antes de formar família, muito antes do nascimento do G., muito antes de qualquer limitação física que hoje possa sentir, já me entregava de corpo e alma, numa primeira fase aos estudos e depois de igual forma, à minha carreira profissional.

Sem falsa modéstia, sempre fui bem sucedida em tudo que empreendi e nesta fase da minha vida, sinto-me a falhar e lidar com o insucesso tem-me levado a questionar muita coisa e a pôr em dúvida as prioridades assumidas ao longo destes anos.

Preciso de reavaliar prioridades, de colocar ordem nas minhas ideias e escrever tem os seus benefícios. Deixar a caneta fluir no papel ou os dedos percorrer o teclado, e no fim ver no que deu... poderá ajudar, ou não.

 

 

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