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Pensar de mais estraga tudo....

30.05.11, Abigai

 

 

Estou sentada a olhar para o monitor, impávida e serena como raramente me sinto.

Penso na vida, nos sonhos realizados e nos que faltam ainda realizar.

Penso na minha família, no meu filho, na vida atarefada e agitada que levamos, nas horas contadas, nas correria, enfim... na vida a cem, ao bom sabor do G.

Penso no futuro, ou será o presente?

Penso nesta doença que me aflige e atormenta. Não que as dores estejam presentes e me lembrem do que aí vem. Felizmente o tratamento iniciado há pouco mais de um mês tem surtido efeito e a maior parte do dia é passada sem dores. Mas as dores não são tudo, há ainda muito para além delas. A cada dia que passa sinto que a rigidez aumenta, os movimentos são mais lentos, mas empenados, mais pesados. As noites são sempre difíceis e por mais que tente esquecer o que se avizinha, elas encarregam-se de me lembrar que o pior ainda está para vir.

E penso....

Penso na minha mãe, no peso que carrega diariamente, nas dificuldades de locomoção que a perseguem, mas também na força de vontade que tem, na resistência à adversidade, na capacidade que tem em aguentar as dores e seguir em frente, conseguindo ainda fazer as lidas da casa, arranjando até afazeres desnecessário, talvez uma forma de ocupar o tempo e não pensar...

Penso na minha obsessão pelo trabalho, e percebo.

Percebo que aqui, frente a este monitor, longe de mim e da vida, sinto-me alguém, sinto-me capaz.

Penso que não aguentaria o que a minha mãe aguenta, que não suportaria sentir-me um peso para os outros, sentir-me dependente.

É frequente a minha mãe deixar entender que se sente um 'estorvo', que 'só dá trabalho'. Nessas alturas aborreço-me com ela e tento que entenda que não me custa nada, que tudo o que faço, todos os 'sacrifícios' ou 'escolhas' que tive que fazer para ficar junto dela não são nada comparado com o amor que sinto. Não sinto de maneira alguma estas opções como um frete, como uma obrigação. É claro que por vezes incomodo-me com certas 'exigências' que faz, é certo que não temos os mesmos princípios no que diz respeito à manutenção do lar e que tenho que ceder em algumas coisas, não vou dizer que é tudo 'cor-de-rosa', a convivência de várias pessoas no mesmo espaço leva sempre a alguns conflitos, só temos que saber lidar com eles, fazer algumas concessões e seguir em frente. Mas no geral, tem sido um prazer estar com ela, 'cuidar' dela, não que precise de um apoio constante, ainda é perfeitamente independente, mas precisa de ajuda em algumas tarefas uma vez que tem algumas limitações motoras. Sei que pode deitar-se sozinha, mas também sei que se a ajudar, será menos penoso, então espero o fim das novelas na TV e acompanho-a até à cama, é um miminho que me faz bem, é algo que irá ficar mais tarde, que me irá trazer também algum consolo, é um momento nosso, um momento de partilha e amor.

Quantas vezes me aconchegou na cama quando eu era pequena? Muitas, sem dúvida... Agora é a minha vez e acreditem, é uma sensação muito boa.

Apesar de ser um prazer para mim estar presente e, apesar de não o verbalizar, percebo que se sente um peso na minha vida. Não o é, garanto.

Atormenta-me pensar que um dia irei sentir isso. Não devia, eu sei, estou agora deste lado e não sinto este apoio que dou como uma obrigação, como um peso, então porque receio sê-lo no futuro?

Estou sentada a olhar para o monitor e penso...

Penso porque não estou ocupada. Pensar complica tudo...

Iniciei há pouco uma nova carreira profissional, um novo projecto ainda pouco divulgado e acontece ter momentos mortos, sem nada com que me ocupar.

É mau, muito mau... É mau porque em vez de viver o momento presente, o dia-a-dia, penso no futuro incerto e imprevisível como o é para todos, mas tenho um exemplo em casa do que pode vir a ser e o que mais queria era fugir dele...

 

Imagem retirada da Internet

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