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Nova estratégia... e a resposta da professora de apoio!

23.11.11, Abigai

Definitivamente, este ano está a ser muito difícil....

Canso-me de tanto tentar fazer valer os direitos do G. e ele, por seu lado, arranja sempre forma de complicar ainda mais a situação!

Tenho perfeita consciência que o G. tem PHDA, sei que é uma perturbação que se caracteriza por défice de atenção / concentração, impulsividade e/ou hiperactividade / actividade motora excessiva. Sei que uma criança com PHDA pode ter dificuldades entre outros em:

- manter a atenção até ao final de uma tarefa,

- prestar atenção a dois estímulos em simultâneo,

- reflectir antes de agir,

- prever as consequências das suas acções,

- seguir normas estabelecidas,

e que além disso crianças com PHDA apresentam ainda outras características como:

- fazem barulhos ou sons desadequados,

- são imprevisíveis, distraídos,

- podem ser facilmente exploradas pelos outros,

- etc.

Sei disso tudo e muito mais, já são anos de treino, experiência, pesquisas e trocas de impressões com outras famílias na mesma situação.

Mas saber não invalida o facto de ter obrigações nomeadamente na educação do G., quer em casa quer na escola.

Em casa temos muitas regras. As regras são sempre importantes em qualquer educação, muito mais ainda na educação de uma criança hiperactiva. Uma destas regras tem a ver com os jogos de computador ou consolas. Tirando os períodos de férias em que a liberdade é um pouco maior, em dias de semana o G. não pode jogar. Sextas à noite num período de tempo de cerca de uma hora, sábados e domingos, pode embora também com horários definidos e tempos máximos. O G. tem televisão no quarto que comprou com o dinheiro que vai recebendo das avós e afins, dinheiro que foi juntando para também aprender a dar valor ao custo da vida, mas ter televisão no quarto também não invalida que hajam regras e horários para ligá-la. Por norma, de manhã depois de pronto para sair, pode ver um pouco de televisão.

Segunda-feira passada, quando o fui buscar ao ATL, antes mesmo de me cumprimentar, o G. contou-me que se portou muito mal, que teve um castigo, mas que a professora nem escreveu nada na caderneta. Foi na aula de Língua Portuguesa - a professora não é a mesma que dá apoio educativo a Português! O G. lembrou-se de desfazer a borracha em pequenos pedaços e atirar aos colegas. Quando a professora se apercebeu, já toda a turma estava a atirar com bocados de borracha. Foi bastante divertido! Resultado: a borracha desapareceu - a mãe que compre outra, pois não tem mais o que fazer ao dinheiro! -, e o G. teve que escrever 40 vezes: "não devo atirar com borrachas na sala de aulas", na sala da directora de turma! Não tenho nada a opor, o G. fez asneiras e sofreu as consequências.

Confesso que fiquei furiosa com ele e garanti-lhe ainda no carro a caminho de casa que não haveria de deixá-lo esquecer o que fez. Uma coisa é estar desatento, distrair-se, não estar quieto, reagir aos estímulos exteriores ou falar alto sem mais nem porquê, isso até consigo compreender que não tenha ainda capacidade para controlar, outra coisa é iniciar e incentivar tal barafunda na sala de aulas, arruinando também a minha carteira, pois... porque borrachas e lápis é à dúzia por semana!

Assim fui pensando pelo caminha como haveria de castigá-lo em casa e fazer com que não esquecesse que tinha que saber comportar-se. Proibí-lo de jogar não teria efeitos imediatos pois ainda faltavam 5 dias para o fim-de-semana, bater-lhe também não era solução e havia ainda o problema da memória curta... amanhã já não se iria recordar do porquê do castigo.

Foi então que se fez luz na minha cabeça. Quando cheguei a casa, liguei logo o computador e preparei duas folhas: a primeira dizia assim "segunda-feira dia 21 portei-me mal na aula de Português atirando com borrachas aos colegas. Por isso fui castigado. Até ao final da semana estou proibido de jogar playstation, jogar computador, jogar wii. Tenho que aprender a comportar-me e que os meus actos têm consequências.",

a segundo dizia quase o mesmo à excepção do castigo que era "(...) ver televisão de manhã."

Não disse nada ao G. e fui afixar cada uma das folhas nos seus respectivos lugares, ou seja, no monitor do computador e na televisão. O G. nem questionou, ficou completamente atónico e quando olhei para ele, apenas vi uns olhos cheios de água e uma lágrima a correr pela face...

Partiu-me o coração vê-lo assim de tão notória que era a tristeza e o sofrimento...

Nunca nenhum castigo surtiu tanto efeito. Nunca nenhum castigo me custou tanto.

Assim, e até Domingo, as folhas vão continuar afixadas e o G. não vai esquecer o que fez nem o motivo do castigo e de não poder jogar. Todos os dias de manhã, vejo-o a olhar para as folhas, com um olhar triste e conformado.

No dia seguinte, falei com o psicólogo para avaliar se a estratégia era adequada ao que aconteceu ou não. Concordou e reforçou o facto de que é mesmo fundamental estabelecer limites e que o G. entenda porque é castigado.

Parece-me que está a resultar, pelo menos, além da resposta da professora de apoio ao recado que deixei, não tem vindo mais nada na caderneta. E dessa resposta que já levou a um pedido de esclarecimentos à DREN, falarei num próximo post que este já vai longo!

 

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