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Quando simples tarefas se tornam num gigantesco desafio

28.05.10, Abigai

Aos 10 anos de idade, qualquer criança deve ter autonomia suficiente para cuidar da sua higiene pessoal, vestir-se, despir-se, etc.

Deve saber quando e como escovar os dentes, ter capacidade para lavar e secar as mãos, atar os sapatos, lavar-se sozinha, assim como usar a casa de banho de forma autónoma sem esperar ordem ou ajuda dos pais.

Quando esta autonomia não chega na devida altura e a criança se sente incapaz de realizar estas tarefas sem ajuda, além de fragilizar a auto-estima da criança, dificulta a sua relação com a família que vê frequentemente nesta dificuldade ou recusa, preguiça ou falta de responsabilidade.

 

O G. como a maioria das crianças hiperactivas apresenta muitas dificuldades na execução destas simples tarefas.

Constantemente é necessário relembrar a necessidade de lavar os dentes, tomar banho, lavar as mãos, ir à casa de banho e vestir.

A hora do banho é um momento de enorme tensão entre nós, é a altura do dia em que a simples e calma conversa para o chamar à razão, não é suficiente.

Actualmente e quase a completar 10 anos de idade, só quando sente a água a escorrer-lhe pelas costas abaixo, é que a calma regressa e até acontece reclamar por não poder ficar mais tempo sob o chuveiro, à excepção feita da lavagem do cabelo sempre litigiosa.

Mas nem sempre foi assim.

 

O banho foi um momento pacífico de puro relaxamento apenas na sua mais tenra infância, quando ainda não se sentava na banheira.

Depois desta curta fase de aparente calma, iniciou-se um longo período difícil, diria mesmo dramático.

Esperneava para não entrar na banheira, atirava com água e brinquedos, batia e gritava que nem criança mal-tratada aquando da lavagem do cabelo, e, em resultado desta gritaria ensurdecedora, ouvia com alguma frequência, da vizinhança, comentários desagradáveis e de suspeição de maus-tratos.

Hoje a gritaria acabou mas a tensão mantém-se e a recusa é diária.

 

Isto é apenas um exemplo, poderia dar muitos mais relacionados com a escovagem dos dentes, a lavagem das mãos, o corte das unhas das mãos e dos pés - estas últimas levavam a gritos inimagináveis dignos de uma autêntica sessão de tortura -, o vestir, o despir ou o calçar.

Mas deixo isto para um próximo post, que este já vai longo...

 

Ainda a mentira... e estudos mais ou menos convincentes

27.05.10, Abigai

Exitem estudos de todos os géneros e feitios, uns mais úteis do que outros, mais ou menos convincentes, de algum interesse ou sem qualquer utilidade, etc.

Na revista Sábado da passada semana deparei-me com um artigo que me deixou perplexa e, passo a citar:

 

Crianças-Pinóquio têm mais sucesso

 

O seu filho mente? Parabéns, as possibilidades de ele se tornar um adulto bem-sucedido são maiores do que as do filho bem-comportado do seu vizinho.

Segundo um estudo do Instituto da Universidade de Toronto, as crianças que aprendem a mentir cedo ficam com o cérebro mais desenvolvido, o que as torna mais habilitadas para potenciais funções de liderança.

Os cientistas descobriram que mentir envolve inúmeros processos cerebrais, assim como a integração de fontes de informação e manipulação de dados, em proveito próprio.

 

Rematando com "A mentira infantil compensa".

 

Pois bem, nem sei que pensar deste estudo.

Será que devíamos incentivar os nossos filhos a mentir?

Não me parece!

 

Voar e Sonhar

26.05.10, Abigai

Voar

 

Eu queria ser astronauta
O meu país não deixou
Depois quis ir jogar á bola
A minha mãe não deixou
Tive vontade de voltar á escola
Mas o doutor não deixou
Fechei os olhos e tentei dormir
Aquela dor não deixou


Ó meu anjo da guarda
Faz-me voltar a sonhar
Faz-me ser astronauta e voar

O meu quarto é o meu mundo
O ecrã é a janela
Não choro em frente á minha mãe
Eu que gosto tanto dela
Mas esta dor não quer desaparecer
Vai-me levar com ela

Ó meu anjo da guarda
Faz-me voltar a sonhar
Faz-me ser astronauta e voar

Acordar, meter os pés no chão
Levantar e dar o que tens para dar
Voltar a rir, voltar a andar
Voltar, voltar
Voltarei
Voltarei

 

Ouvir esta canção dos Xutos & Pontapés lembra-me algo tão importante e muitas vezes esquecido e que confesso descorar ultimamente: sonhar.

Sonhar é fundamental para enfrentarmos a vida, sentirmo-nos motivados para a vida, ter perspectivas de futuro de forma a encarar com entusiasmo e optimismo a nossa caminhada.

O que nos motiva?

O que nos leva a ser tenaz, vencer obstáculos, e a não desistir ao primeiro fracasso?

Acreditar que tudo o que sonhamos está ao nosso alcance.

As pedras encontradas pelo caminho, as portas que se fecharam, as oportunidades que se perdem, as decisões mal tomadas, não podem servir de desculpas, de “muletas” para deixar de alimentar os nossos sonhos, pelo contrário, devem servir para fortalecer a nossa determinação em concretizá-los.

 

E agora para descontrair...

 

Ainda a hiperactividade...

21.05.10, Abigai

Há dias perguntava-me uma mãe se o facto do filho hiperactivo mentir podia estar relacionado com a PHDA.

Naquela altura não tinha dados concretos, contudo, e tendo em conta as experiências vividas em casa, afirmei-me favorável a esta explicação.

Após alguma pesquisa, posso confirmar esta tendência.

 

Quanto mais se tenta contrariar este distúrbio, mais ele afecta. O melhor método é a tranquilidade e não pressionar estas crianças ou adultos. Pessoas com défice de atenção tendem a olhar para todo o lado, desligar-se, parecer aborrecidas, esquecer-se da conversa e interrompê-la com uma informação totalmente fora do assunto.

Conseguem ainda estar atentas a coisas estimulantes, interessantes ou assustadoras, isto porque recebem estimulação suficiente para permitir a concentração.

Daí gostarem de jogos de PlayStation e afins, conseguindo algum tempo de calma e sossego, embora nem sempre quietos e silenciosos!
       

Devido à necessidade de estímulo, este distúrbio leva as crianças e/ou adultos a agir sem pensar: dizem coisas inadequadas às pessoas, mentem, roubam, assumem comportamentos de inquietação, desassossego, cantam em situações menos próprias.
Um hiperactivo adulto pode ter dificuldade em manter um emprego, ainda que realmente o queira pois de repente diz o que pensa, antes de ter a oportunidade de processar o pensamento. Em vez de pensarem bem no problema, querem uma solução imediata e acabam por agir sem pensar. Devido à impulsividade e à falta de pensar antes de agir, dizem a primeira coisa que vem à mente e, em vez de pedir desculpas por terem dito uma coisa que magoou, muitas tentam justificar por que fizeram a observação que magoou, só piorando as coisas. Um comentário impulsivo pode estragar uma noite agradável, um fim de semana, ou mesmo um casamento.

A busca do conflito é frequente para o hiperativo.

Muitas pessoas que sofrem de PHDA inconscientemente procuram no conflito uma forma de estímulo. Não têm consciência de o fazer. Dançar, correr, gritar, e ficar cantarolando são formas de auto-estimulação.

Os pais de crianças com PHDA relatam frequentemente que os filhos são peritos em criar confusões ou discussões desnecessárias.

 

As reacções mais frequentes dos que lhes são próximos (pais, educadores, cônjuges, etc) são irritarem-se, gritando e dando sermões, no entanto, isso não ajuda a criança e/ou adulto pois favorece um comportamento desassossegado e inadequado.

Quando os pais param de oferecer estimulação negativa (gritos, surras, sermões, etc), diminui o comportamento negativo dessas crianças. A estratégia ideal é parar, falar com calma e voz suave, evitando assim aumentar os estímulos e permitir à criança sossegar.

Assim, os intervenientes na educação destas crianças devem controlar os seus impulsos para que a criança não se sinta sob pressão e consiga, por fim, agir calmamente.

 

Concordo sem dúvida, o único problema é que nem sempre estamos com paciência suficiente para conseguir controlar os nossos próprios impulsos, nem sempre conseguimos evitar gritar essencialmente no final de um dia agitado, barulhento e cansativo.

 

Ainda a Hiperactividade....

12.05.10, Abigai

Ainda sobre o seminário do passado sábado, recordo com algum agrado citações apresentadas pela Dra. Virgínia Monteiro - pediatra de desenvolvimento.

Não anotei essas citações, mas após alguma pesquisa na internet encontrei uma que exemplifica muito bem o contexto:

 

Agora as crianças gostam de luxo. Têm maus modos, desprezam a autoridade, não mostram respeito pelos mais velhos e adoram incomodar. Já não se levantam quando entram pessoas mais velhas. Contradizem os pais, comem guloseimas à mesa e são tiranos com os professores.

Esta citação podia certamente ser contemporânea, no entanto é do filósofo Sócrates no Sécúlo V a.C.

 

Isso para reforçar a ideia de que a PHDA não é uma perturbação nova, não é a doença do século ou uma desculpa para pais, não é falta de educação, mas sim um distúrbio já muito antigo.

 

Uma experiência a repetir

12.05.10, Abigai

A convite da Teresa, no passado sábado, o meu marido, o G. e eu, rumamos até S. João da Madeira para participar no seminário "Hiperactividade: Quando a Energia não acaba...".

Apesar de toda a informação sobre a Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA), de todas as pesquisas, dos contactos conseguidos através da internet e blogs que visito diariamente, nunca tinha participado nem assistido a nenhum evento deste tipo.

Quando a Teresa me convidou para testemunhar da minha experiência como mãe de uma criança com PHDA, senti um misto de excitação e pavor.

Sou de natureza reservada e muito tímida e falar em público não me entusiasma de forma alguma.

Contudo, aceitei de imediato, pois se quero ajudar o meu filho a ultrapassar as suas fobias, talvez não seja pior ultrapassar primeiro eu as minhas.

A verdade é que adorei ter aceite este desafio.

Foi uma experiência muito positiva.

Não estava minimamente preparada mas uma vez iniciada a minha intervenção, penso que fluiu naturalmente e não correu muito mal.

Fiquei satisfeita por perceber que afinal até nem é muito difícil!

Sinceramente, já nem sei muito bem do que falei, sei apenas que não falei do que tinha imaginado falar!

Não falei nas mais simples tarefas do dia-a-dia, aquelas de que ninguém fala por serem tão básicas e banais, mas que são tão difíceis de executar com crianças hiperactivas.

Tarefas como vestir, tomar banho, lavar os dentes, calçar, tomar o pequeno-almoço, etc, são batalhas diárias e, para sair delas vitoriosa, tenho que redobrar de paciência, estratagemas e imaginação.

Não falei nos dias de revolta, de desespero, de ansiedade.

Não falei dos dias em que o G. chega a casa com a auto-estima completamente em baixo, nas palavras duras de ouvir para uma mãe, tais como "se calhar sou burro..." ou "mais vale morrer...".

Não falei nos gritos, nos guinchos, nas horas a fio a falar, na falta de silêncio nem que fosse por um só dia...

Mas falei no filho meigo e amoroso que tenho a felicidade de ter e nos momentos de pura ternura que temos juntos.

Foi um evento muito proveitoso com a presença de professores, psicólogos, pediatras, nutricionistas, etc.

Não ouvi nada que já não soubesse mas foi tão bom relembrar e essencialmente confrmar que não estou errada e que sigo pelo caminho certo, embora ainda muito acidentado.

Foi bom verificar que ainda existem muitos professores empenhados em conhecer a problemáticas da PHDA para melhor ajudar e apoiar os seu alunos.

Adorei conhecer a Teresa com quem já partilhava há algum tempo algumas experiências embora sem a conhecer pessoalmente, adorei conhecer a Linda Serrão, presidente e fundadora da Associação Portuguesa da Criança Hiperactiva, ela própria hiperactiva.

Foi bom sentir que não estamos sós, e foi bom para o G. conhecer o Rafa, filho da Teresa, um miúdo da mesma idade e que, como ele, sofre.

Porque um hiperactivo sofre.

Sofre por não saber controlar-se, sofre por ser demasiado impulsivo, sofre por se sentir frequentemente rejeitado, sofre porque sabe que é diferente e é incapaz de controlar essa diferença, porque isso não depende da sua vontade.

Mas ser diferente também é ser especial e ser especial também é bom.

Em suma e para terminar, foi uma experiência fantástica, um refrescar da alma extremamente positivo.

Acredito que não tenha sido uma experiência única, e espero repetí-la em breve.