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Um tímido regresso....

12.10.12, Abigai

Há quase sete meses que deixei de parte este blog que, ao longo dos últimos três anos muito me ajudou e abriu novos horizontes.

Nestes últimos sete meses pouco ou nada mudou.

O tempo não curou um estado de alma depressivo, apenas atenuou os queixumes.

Lentamente vou tentar regressar, timidamente, sem grandes ambissões. Sinto falta da escrita lida, dos comentários de apoio.

Muito se passou desde o último post sério, sem lamentações.

 

Curiosamente e contra todas as minhas expectativas, o G. passou para o 7º ano. Apesar dos maus resultados nos exames nacionais, transitou apenas com negativa a matemática. Após alguma luta para fazer valer os seu direitos na escola e conseguir algum apoio individualizado além do apoio educativo, o G. teve uma avaliação diferenciada a Português, com testes adaptados à suas dificuldades, o que permitiu ir tirando algumas notas positivas. Feitas as contas e considerando os 25% que os exames nacionais pesavam na avaliação final, conseguiu transitar.

Inicialmente, fiquei com dúvidas: transitar era concerteza positivo para a sua auto-estima, contudo, repetir o ano poderia ser também uma mais-valia para reforçar conhecimentos.

Hoje, e embora ainda só tenha iniciado este novo ano escolar há um mês, sinto que foi uma aposta acertada.

Em primeiro lugar, o G. sente-se mais confiante e optimista por agora ser um dos "grandes" da escola. Está no 7º ano e feliz.

Em segundo lugar, tem finalmente um horário acertado, de acordo com as suas características, um horário da manhã, no qual todas as disciplinas importante decorrem nas primeiras horas do dia, quando está mais desperto, mais atento, em pleno efeito da medicação.

Como em todas as transições de ciclo, a minha maior preocupação foi informar a directora de turma das suas dificuldades, da sua PHDA. Como já suspeitava, apesar de estar tudo no seu processo individual, a informação ainda não tinha chegado no início do ano lectivo.

Mas algo que sinceramente não esperava aconteceu. Logo na primeira aula de apresentação de Português, a professora, que não é directora de turma, fornecer aos alunos o seu endereço de e-mail, solicitando aos pais que enviasse um de forma a ficar com os contactos dos pais.

Fiquei agradavelmente surpresa, pois tanta disponibilidade por parte dos professores não é coisa comum. Aproveitei para informar a professora que o G. tem PHDA e dificuldades específicas além das características disléxicas. Por sua vez, a professora informou a directora de turma, professora de matemática, que, logo na primeira reunião com os encarregados de educação, quis falar comigo em privado. Foi tudo tão interessado, tão preocupado, que fiquei deveras surpreendida. Não foi preciso reuniões nem queixas, senti um interesse por parte dos professores a que pouco habituada estava; na 2º semana, o G. já estava com aulas de apoio e o contacto via e-mail com a directora de turma tem sido muito frequente.

O reforço positivo está presente desde o início, o G. sente-se compreendido, e demonstra um interesse muito maior pelo estudo.

Tudo leva a crer que este ano irá ser menos stressante do que os anteriores, menos angustiante, mais aberto e mais suave, apesar da matéria ser mais difícil.

A ver vamos.

 

Para além da evolução do G. nestes últimos sete meses, o meu estado de espírito pouco mudou. O olhar da minha mãe nos dois dias que passamos nas urgências antes duma cirurgia que acabou por ser apenas o adiamento de um triste desfecho, ficou gravado na minha retina, um olhar de agonia, um pedido de paz. Uma súplica que eu não deferi, uma cirurgia que eu teimei em autorizar, no momento, talvez por covardia, talvez agarrada à esperança, e que agora me consome diariamente. Horas de espera, à porta do bloco operatório, no dia em que fazia 18 anos que o meu pai tinha falecido, talvez pela repetição da data, pela recusa em perder um pilar importantíssimo da minha vida... Horas de espera que continuam a remoer.

A perda é extremamente difícil de superar, é verdade, se ao menos conseguisse apagar as últimas imagem e recordar apenas a vida...

Mas algo de positivo saiu desta experiência traumática, se é que é possível falar de algo positivo numa perda desta natureza.

Há 50 anos atrás, o meus pais já se preocupavam com o envelhecimento da população de que tanto se fala hoje em dia e resolveram contribuir com 7 filhos, que por sua vez contribuíram com mais 12. Sete filhos divididos por 2 paises e 7 cidades diferentes e afastadas umas das outras. Sete filhos que há anos não se juntavam em torno de uma mesma mesa, juntos.

Da perda resultou uma resolução: pelo menos uma vez por ano comprometemo-nos em juntarmo-nos todos um fim-de-semana. Comprometemo-nos em adiar os nossos afazeres, arranjar forma e tempo para viajar, por Portugal ou França alternadamente, pôr de parte todas as desculpas que facilmente damos a nós próprios para justificar meses a fio sem notícias uns dos outros, e juntarmo-nos, em torno de uma mesa, em honra, memória e agradecimento pela vida que temos, pela educação e oportunidades que nos foram dadas pelas duas pessoas que nos trouxeram ao mundo e que tanto se sacrificaram por nós, sem nenhum queixume, sem nenhuma desculpa.

O primeiro encontro aconteceu no passado mês de Agosto, um encontro em que só faltaram 4 sobrinhos e 1 cunhada, por impedimentos diversos, mas conseguiu juntar 21 pessoas em torno de uma mesa gigantesca, com muita alegria e choro pelo meio, com muitas garrafas e boa comida. Um fim-de-semana memorável que finalmente permitiu tirar uma fotografia com 7 irmãos que há anos não estavam juntos ao mesmo tempo. Muita emoção e memórias, e a promessa de repetir no próximo ano!

 

 

 

 

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