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Desassossego

28.04.11, Abigai

 

No Livro do Desassossego de Bernardo Soares, um semi-heterónimo de Fernando Pessoa, sobressai o tom melancólico, de um desalento evidente, em passagens que tratam da impossibilidade de descansar a alma e o intelecto, de regressar a um lugar e a um tempo em que seja possível sentir-se abrigado de qualquer inquietação, como num retorno ideal a si-mesmo.

 

Este desassossego instalou-se em mim há algum tempo. Um desassossego que não deixa espaço a descanso. Um desassossego infinito, quase imperceptível aos olhos dos outros mas que invade totalmente os meus pensamentos, numa inquietação, direi mesmo preocupação, para a qual vislumbro uma saída que tento em vão evitar.

 

Por um lado o vício do trabalho árduo, a vontade e persistência em nunca desistir e elaborar uma tarefa irrepreensível, perfeita, por outro, a consciência nítida de que a obra feita não terá continuidade nem será nunca reconhecida.

De que vale esforçar-se?

De que vale insistir num caminho sem saída?

Por muito que tente persuadir-me que vale sempre à pena lutar por uma obra bem feita e terminada, por muito que tente dar o benefício da dúvida, sei no meu mais profundo íntimo que será em vão.

Quando lidamos com pessoas instáveis, inconsistentes, sem rumo, pessoas indecisas, sem qualquer sentido de estratégia, incapazes de dar a mão à palmatória, de reconhecer fraquezas ou virtudes nelas ou nos outros, será viável ou até mesmo saudável insistir?

 

É nesta situação que me encontro actualmente. No meio de um projecto que poderia ser gratificante, que poderia ter pernas para andar, mas ao qual foi retirado o tapete mesmo antes de iniciar a marcha.

Este desassossego, esta inquietação que vive em mim, que atordoa a minha alma, os meus pensamentos, a minha estabilidade, resume-se a isso: decidir se devo ou não continuar neste caminho sinuoso, sem saída à vista, ou simplesmente aceitar o fracasso anunciado logo à partida e dar meia volta antes que o cansaço tome conta de mim e não consiga mais voltar...

 

Longe de mim achar que sou perfeita.

François de La Rochefoucauld disse 'A virtude não iria tão longe se a vaidade não lhe fizesse companhia'

Competência e talento não me faltam...

Sem querer ostentar qualidades ou enaltecê-las, estou convicta que propostas não me faltarão, como nunca faltaram no passado ou até mesmo na actualidade...

 

Só falta mesmo respirar fundo, aceitar o actual fracasso e quem sabe... partir para outra!

 

Imagem retirada da Internet.

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