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Estilo... aos 10 anos!

30.03.11, Abigai

 

A cada dia que passa mais me surpreendo com o meu G.

Agora tem "estilo"!

 

"Sabes mamã, as meninas não querem saber só da cara, o estilo também conta para ser namorado"

 

De véspera escolhe a roupa com todo o cuidado, as calças têm que ser "à men", a camisola tem que condizer e de preferência ser folgada, as sapatilhas têm que ser com cordão, mas sem apertá-las, estes ficam por dentro, tem que usar lenço ou cachecol, e os adereço como por exemplo pulseiras em cordão ou pele, são fundamentais!

 

"Namora" desde a semana passada com a B.

Ontem, pela primeira vez, abraçaram-se!

Quando cheguei a casa estava em pulgas para me contar como foi o abraço, com ar tímido e acanhado. Lá lhe disse que não precisa de ficar embasbacado, pode falar à vontade connosco sobre o que se passa ou faz com a namorada, desde que haja respeito e sinceridade, os pais compreendem...

Confessou depois que tem pouco tempo para estar com a B., o que o entristece, ele almoça no ATL excepto às segundas e sextas, ela almoça na escola excepto às segundas e sextas. Andam desencontrados. Na sala de aulas, está sentado junto à A., e nos intervalos sente-se no dever de estar com os amigos... complicada a vida de pré-adolescente, não?

Os amigos gozam-no se deixar de estar com eles para estar com a namorada, supostamente fez dele lamechas!

E depois existe a A., a colega que fica junto dele na sala de aulas.

A A. é uma miuda muito meiga, simpática e atenciosa com o G. Sempre o ajudou muito nos estudo e por isso foi colocada na mesma mesa, é muito estudiosa e explica ao G. o que ele não entende. Ajuda-o nos trabalhos de casa pois anda no mesmo ATL, e quando o G. não sabe explicar os trabalhos que tem que fazer, é com ela que eu falo para percebê-los.

A A. perdeu o avô o ano passado, tinha uma relação muito próxima com ele e sente muitas saudades. Fala com frequência disso com o G. e existe muita complicidade com ele. Além disso, o único contacto de miudas memorizado no telemóvel do G. é precisamente o da A., e esta envia-lhe muitos SMS's!

A título de brincadeira, costumava dizer ao G. que a A. estava apaixonada por ele. o G. ficava danado comigo, dizia que não e por vezes até ficava ofendido por insinuarmos tal coisa.

Pois bem, ele agora está preocupado que seja verdade.

Ontem, a A. chorou ao ver o G. abraçar a B.

O G. perguntou-lhe o que se passava e ela desculpou-se dizendo que estava a pensar no avô, mas o G. ficou desconfiado e hoje de manhã disse-me que seria muito melhor que ela lhe dissesse a verdade, não a quer magoar.

 

Nunca pensei que aos 10 anos a vida amorosa pudesse ser tão complicada...

 

 

Resolução do dia....

29.03.11, Abigai

 

 

Ontem fui a mais uma consulta de Reumatologia.

A conversa foi a do costume...

A todas as minha queixas o médico respondia o mesmo de sempre.

Normal. É tudo normal!

Saí de lá com a frustração de sempre, sem saber muito bem o que pensar.

Talvez o defeito seja meu, pensava. Talvez esteja na especialidade errada, talvez precise mais de um psiquiatra do que de um reumatologista. Se é tudo normal, porquê tanta dor?

Único conselho: tomar os comprimidos milagroso - um analgésico que combina o poder do paracetamol com um opiáceo -, diariamente, ao almoço, para evitar passar noites em branco.

E eu que evitava tomá-los por pertencerem à família dos narcóticos!

 

Depois de passar a fase da frustração e da revolta por sentir-me incompreendida, passei à fase de reflexão.

Realmente, pensando bem, cheguei à conclusão que o defeito é mesmo meu. Estou à procura de respostas onde elas não existem, de soluções onde não as há.

Sei do que sofro, sei que não vou ter melhoras, sei que a ideia é atrasar a evolução da doença. E de facto, tendo em conta esta patologia, as minhas queixas são normais.

Não sei do que estava à espera. Ou melhor, sei, mas não faz sentido.

Acho que estou a passar pelo mesmo dilema que vivi quando tive que medicar o G. Saber que a medicação que pode aliviar as dores pertence ao grupo dos narcóticos perturba-me e achava que podia passar sem ela.

Mas na verdade, o que é que pretendo do meu médico? Que me ajude a não ter dores, não é? Cura, sei que não me pode dar.

Então porque não seguir o seu conselho e passar a tomar a medicação diariamente?

Esta é a resolução do dia, a ver vamos se resulta ou não.

Sem dores, com certeza que até hei-de esquecer a doença.

 

 

Da água para o vinho....

26.03.11, Abigai

 

 

Ainda na passada terça-feira, o G. estava completamente em baixo. Hoje já parece outro!

E a que deve esta mudança? Pois bem.... a uma miúda!

A semana passada recebi um telefonema da directora de turma do G. muito preocupada com a baixa de resultados nos últimos testes.

Nada que me surpreendesse, pois estava à espera que isto acontecesse. O primeiro período é mais fácil e sabia que quando as coisas começassem a complicar, as dificuldades tomariam as rédeas. E é isto mesmo que está a acontecer.

Só tem positivas a história e ciências da natureza onde apenas decorar matéria é sufuciente. Nas restantes disciplinas em que a compreensão e o raciocínio são fundamentais, os resultados são negativos.

Não desespero com isso, não estou propriamente satisfeita, como é óbvio mas sei que não é por falta de estudo, sei que não é por falta de esforço e dedicação. A matemática por exemplo, o G. impressiona-nos com a sua grande capacidade em elaborar cálculo por vezes complicados, mas quando chega aos testes, o caso complica-se pois antes de fazer qualquer cálculo, tem de perceber qual deles aplicar e, sem perceber o enunciado, é mesmo impossível.

Este é que é o grande problema: a compreensão. Tem também muita dificuldade em adquirir e assimilar vocabulário novo, o que tem afectado muito a disciplina de Português. Além disso, continua uma criança demasiadamente preocupada e angustiada, complicando ainda mais a situação.

Na passada terça-feira, passou o serão a chorar, sem saber explicar muito bem porquê e preocupado por achar que o pai não gostava dele! Cisma em coisas sem nexo, e com muita dificuldade o conseguimos convencer do contrário. Que achasse que a mãe não gostava dele, eu até compreendia - embora não aceitasse, pois é totalmente disparatado - mas o pai? Passam a vida na brincadeira, mais parecem duas crianças do que pai e filho, são iguaizinhos até nos disparates, nas asneiras e no feitio. São ambos impulsivos, fazem e depois pensam, quando ralho com um tenho mesmo é que ralhar com os dois, e mesmo assim, apesar de toda a atenção que o pai lhe dá, mesmo depois de passarem horas às lutas, nos jogos, na brincadeira, o G. achava mesmo que o pai não gostava dele!

E tirar-lhe isso da cabeça? E fazer com que compreendesse que não fazia sentido? Enfim... acabou por passar mas é realmente esgotante ver um filho, ainda tão novo, criar angústias e ficar deprimido desta forma, sem saber muito bem como ajudá-lo, como ajudá-lo a ver que estas cismas não fazem sentido, que está a sofrer sem qualquer necessidade.

Já na quarta-feira, o G. estava mais animado, menos em baixo e preocupado com a roupa que iria vestir no dia seguinte. Pela primeira vez, queria ser ele a escolher a roupa. Acabou por tirar quase todas as camisolas do roupeiro, experimentou todas, até escolher a certa, o mesmo com as calças e até com o casaco... Achei aquela cena toda muito estranha e suspeita e até lhe perguntei a quem queria agradar.... Ele ficou corado e não me deixou dizer nem mais uma palavra - e até tapou-me a boca para eu não me atrever a falar mais. Confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha, mas achei imensa graça à situação.

No dia seguinte, confessou que tem uma namorada! A cena repetiu-se e agora tem um cuidado impressionante no que toca à roupa, ao cabelo, a até já quer levar o telemóvel para a escola!

Ontem, às 6h30 da manhã, já estava pronto para seguir para a escola, devia querer ser ele a abrir os portões! Levantou-se às 6h, lavou-se, vestiu-se, preparou os cereais para o pequeno almoço, pôs gel no cabelo (para ficar mais giro, para agradar à miúda!) e depois veio tirar-nos da cama, apressado para sair!

 

 

 

Reflexão

11.03.11, Abigai

É madrugada. Procuro dormir mas o sono não chega.

Aproveito o momento.

As ideias na minha mente atropelam-se e o desassossego invade-me lentamente.

Então escrevo.

Tento colocar no papel estas reflexões sem nexo, dar-lhes algum sentido.

Sentido.

O sentido que buscamos na vida?

Mas que sentido é esse?

Preciso de sentir-me útil, sentir que apesar da minha pequenez, a minha presença neste mundo imenso e complexo, irá deixar alguma marca, alguma lembrança, algum pensamento.

Sentir que existo.

Sentir-me importante, imprescindível.

Será que todos sentimos isso? Ou estarei a ser utópica? Egocêntrica?

Sei que sou amada e acarinhada pela minha família, não nutro qualquer dúvida em relação a isso.

Mas confesso que não chega, não me satisfaz plenamente.

Confesso que me falta algo.

Embora não ache isso propriamente saudável nem tão pouco gratificante, admito ser "viciada" no trabalho. O exercício da minha profissão ocupa-me os pensamentos em demasia. Quando não estou a trabalhar, penso no que poderei fazer quando lá chegar, planeio projectos e elaboro mentalmente processos de melhoria. Construo na minha mente novos planos, idealizo novos procedimentos, novas soluções.

Costuma-se dizer que trabalhamos para viver. Não sei. Diria talvez que vivo para trabalhar.

Não me parece em nada saudável, nem do ponto de vista físico - por vezes duvido mesmo da minha sanidade mental - , nem do ponto de vista familiar.

A minha carreira ocupa-me de tal forma o pensamento, que frequentemente sinto-me totalmente alheia ao que se passa à minha volta.

Sei que não está certo. Reconheço que é errado e obsessivo colocar o trabalho em primeiro plano. Admito que representa um problema mas não consigo evitar, não consigo encontrar forma de o contornar, de o resolver.

Está a tornar-se obsessivo. Tento contrariar esta tendência e viver mais a vida.

Tento.

Diria ter uma explicação, ou talvez não passe de uma desculpa esfarrapada, uma forma de me enganar a mim própria.

A verdade é que quando estou no meu posto de trabalho, quando elaboro projectos ou implemento melhorias significativas, sinto-me competente, completa, sinto que faço a diferença, sinto-me insubstituível - embora tenha perfeita consciência que ninguém é insubstituível - , e não penso nos "outros problemas".

Não penso nas crescentes limitações físicas que ultimamente tenho sentido.

Não penso em todas as tarefas domésticas que me esperam em casa e que tanto me custam.

Não penso nas dificuldades do G. e na minha impotência perante os desafios que se avizinham.

Não penso no futuro pouco risonho que se aproxima.

Sinto-me incompetente como mulher e esposa, sinto-me incompetente como mãe, e preciso, tenho necessidade, uma sede inabalável e incontornável, de sentir-me competente em alguma coisa.

Não é de forma alguma uma confissão depressiva, é acima de tudo uma tentativa de análise desta obsessão pelo trabalho. Mas provavelmente não passa de uma desculpa, de uma forma de justificar, de enganar-me.

Na realidade, muito antes de formar família, muito antes do nascimento do G., muito antes de qualquer limitação física que hoje possa sentir, já me entregava de corpo e alma, numa primeira fase aos estudos e depois de igual forma, à minha carreira profissional.

Sem falsa modéstia, sempre fui bem sucedida em tudo que empreendi e nesta fase da minha vida, sinto-me a falhar e lidar com o insucesso tem-me levado a questionar muita coisa e a pôr em dúvida as prioridades assumidas ao longo destes anos.

Preciso de reavaliar prioridades, de colocar ordem nas minhas ideias e escrever tem os seus benefícios. Deixar a caneta fluir no papel ou os dedos percorrer o teclado, e no fim ver no que deu... poderá ajudar, ou não.