A Espondilite Anquilosante (EA) é provocada por uma alteração inflamatória crónica em vários componentes articulares (uniões dos ligamentos e dos tendões, fibrocartilagens, cápsulas articulares), originando o desenvolvimento de um tecido fibroso cicatricial que, posteriormente, se ossifica e, nas fases avançadas, chega a formar pontos de união entre os extremos ósseos adjacentes, daqui resulta a consequência mais grave da doença, ou seja, a de formação e perda progressiva da mobilidade das articulações afectadas. Embora este processo ocorra, sobretudo, nas articulações intervertebrais da região lombar da coluna e nas articulações sacro-ilíacas (entre a extremidade inferior da coluna e a região pélvica), em cerca de 25% dos casos também pode afectar algumas articulações periféricas, sobretudo as ancas, os ombros, as mãos e os pés.
Evolução e manifestações:
Normalmente, a EA começa de forma gradual e tem uma evolução crónica, com períodos em que os sinais e sintomas são muito evidentes, alternados com outros em que estes não se manifestam. Apesar de, em alguns casos, a evolução da doença poder ser travada de forma espontânea, regra geral, a sua evolução prolonga-se durante décadas, proporcionando o aparecimento de problemas a médio ou longo prazo.
As fases iniciais caracterizam-se pelo aparecimento de dores e rigidez na região lombar, embora estes problemas possam alastrar para a zona das nádegas ou coxas. A dor pode ser mais ou menos intensa, como também pode ser muito aguda. A dor costuma aumentar de intensidade durante a noite, embora persista de forma variável, enquanto que a rigidez lombar aumenta ao longo do dia, com a realização de esforços.
Por vezes, o início da doença adopta uma forma atípica, com o aparecimento de dores torácicas consequentes da deterioração das articulações do esterno ou através de uma inflamação dolorosa das articulações dos membros inferiores ou, com menor frequência, dos superiores. Nestes casos, ao fim algum tempo surgem sinais que indicam o envolvimento das articulações da coluna e das sacro-ilíacas.
Nos períodos em que os sinais e sintomas da doença se intensificam, as dores e a rigidez articular são muito intensas, sendo por vezes acompanhadas por manifestações sistémicas inespecíficas, tais como fadiga, mal-estar geral e perda de apetite. Estes períodos de aumento da intensidade dos sinais e sintomas podem intercalar-se com outros em que os sinais e sintomas cedem ou desaparecem por completo.
Com o passar do tempo e à medida que as lesões articulares vão progredindo, as manifestações vão-se tornando persistentes, proporcionando o surgimento de alterações permanentes das estruturas afectadas. De facto, as articulações afectadas, com o tempo, vão perdendo mobilidade, o que nas fases avançadas provoca a anquilose e o desenvolvimento de deformações da coluna. Em primeiro lugar, evidencia-se uma perda da curvatura normal da região lombar e uma acentuação da curvatura da região dorsal (cifose), com a cabeça projectada para a frente, enquanto que a região cervical perde mobilidade em todos os sentidos.
Nos casos graves, se não se efectuar qualquer tratamento, o paciente é afectado por deformações muito evidentes da coluna que lhe dificultam a locomoção, embora as dores desapareçam à medida que as articulações afectadas perdem mobilidade.
Manifestações extra-articulares:
Em alguns casos, a EA pode ser acompanhada por manifestações noutras localizações, para além das articulações. A mais comum é a irite, ou seja, uma inflamação da íris que provoca vermelhidão e dor ocular, embora normalmente desapareça espontaneamente, sem provocar grandes problemas. Em alguns casos raros, o coração também pode ser afectado pelo aparecimento de crises de angina de peito, de arritmias ou mesmo insuficiência cardíaca. Em fases mais avançadas, quando as articulações do tronco são afectadas e acabam por provocar uma limitação da expansão do tórax, podem desenvolver-se complicações pulmonares.
Tratamento e exercícios:
Tendo em conta que a sua origem ainda não é exactamente conhecida, não existe um tratamento que cure a espondilite anquilosante. De qualquer forma, existem várias medidas que podem ajudar a aliviar os problemas e a prevenir as graves deformações originadas pela doença nas suas fases avançadas.
Por um lado, pode-se recorrer à administração de anti-inflamatórios e analgésicos, de modo a reduzir a inflamação e a aliviar as dores, o que, embora não trave a evolução da doença, possibilita uma grande melhoria na qualidade de vida e facilita a realização de exercícios destinados a manter a mobilidade das articulações afectadas. Como existem inúmeros medicamentos que podem ser prescritos e como costumam ser administrados por períodos muito prolongados, o facto de poderem provocar inúmeros efeitos secundários faz com que a sua escolha e posologia deva ser estabelecida consoante cada caso específico, sendo extremamente importante que o paciente respeite as indicações do médico e se submeta a exames regulares.
Por outro lado, os exercícios físicos e a fisioterapia adquirem um papel essencial na prevenção da rigidez articular e de deformações. Embora seja conveniente evitar os esforços e reduzir a actividade física, sobretudo nos períodos de aumento dos sinais e sintomas, o repouso absoluto não costuma ser uma boa solução, já que a imobilização favorece a perda de mobilidade articular. De acordo com as instruções do fisioterapeuta, o paciente deve aprender a realizar os exercícios mais convenientes em cada caso específico, com vista a efectuá-los indefinidamente na sua própria casa, embora deva submeter-se regularmente a consultas médicas, já que desta forma é possível prevenir, na maioria dos casos, a evolução da doença para uma invalidez. Para além disso, mesmo o prognóstico da doença sendo muito variável, o tratamento fisioterapêutico adequado e oportuno, associado ao farmacológico, costumam permitir uma melhoria significativa.
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