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Carlos Almeida – Entrevista a propósito de “Os Senhores da Vida e da Morte”

02.02.12, Abigai

Carlos Almeida, autor de “Os Senhores da Vida e da Morte”, (...), deu uma entrevista ao Porta-Livros onde falou precisamente do seu livro, um romance muito intenso e doloroso onde a morte é a protagonista, exaltando, por consequência, o valor da vida. (...)

 

"O tema vida é dos que gosto muito de debater. Não do ponto de vista esotérico, ou pela discussão sócio-religiosa, mas sim pela simplicidade da sua riqueza, afinal a vida é a maior das riquezas que temos e tantas vezes a tratamos mal. Mas a vida sem a morte não pode existir, são duas verdades que vivem ligadas, entrelaçadas na nossa existência. Algo que sempre me fez uma real confusão, foi verificar que as pessoas teimam em dar o real valor à vida quando estão perante a morte. Desperdiçam a vida em coisas fúteis, vazias, sem vida, e depois, quando estão perante a morte, lembram-se que estão vivos. Mas no meio disto, vão desenvolvendo um enorme medo da morte, o que as faz estarem cada vez mais distantes da vida. (...) a morte é um complemento à vida e temos de aceitar isso, com o medo natural de se gostar tanto de viver que não se quer morrer cedo. Só assim teremos a capacidade de olhar a vida com o agrado que ela merece. Mas estamos sempre a tempo de aceitar a morte. E aqui entra outro ponto que me levou a escrever este livro, onde está afinal a vida, mesmo depois da morte? Ao longo da História da Humanidade, o Homem foi dando demasiada importância ao corpo, por isso se venera tanto um corpo na morte, e por isso existe a necessidade de existirem locais de “culto” como os cemitérios (para mim apenas locais para perpetuar a dor da perda). Mas seremos nós apenas corpos? Penso que somos muito mais do que isso. Somos uma essência, que vive para lá do corpo. Costumo dizer que existe uma diferença entre morrer e falecer. Morrer é estarmos sós por completo na essência dos sentimentos, mesmo que ainda exista um corpo vivo, mas falecer é estarmos bem vivos na essência dos sentimentos, mas infelizmente o corpo já não existe. E isto está retratado no belíssimo poema do Henry Scott Holland (...). Temos de aprender a encontrar as pessoas, depois da partida do corpo, na essência dos sentimentos, ou seja, eu hoje encontro aqueles que já não têm o seu corpo vivo perto do meu, nas mais variadas formas, no vento, no sol pela manhã, numa música que escutamos, num local onde estivemos, numa simples conversa que tivemos… e isso é a vida. E eles continuam todos vivos, tomaram foi outra forma, outro “corpo”. Uma confissão, eu praticamente evito ir a funerais… porque é que temos de fazer o dito luto numa celebração de enterro completo de alguém que amámos e ainda amamos? Temos é de guardar a sua existência viva e repleta de essência desse mesmo amor."
(...)

 

Publicada in blog "Porta-Livros" de Rui Azeredo.

in Carlos Almeida