Hoje, ao ler este post e este, recordei os tempos em que as minhas noites eram de desespero devido aos terrores nocturnos do G., e como agora, por vezes, até se tornam divertidas com os seus episódios de sonambulismo.
Os terrores nocturnos, muito diferentes dos pesadelos, são uma alteração do sono frequente em crianças, em que há um despertar abrupto e acompanhado de sinais de ansiedade intensa, geralmente nas primeiras horas de sono.
A criança acorda em sobressalto, uma ou duas horas depois de ter adormecido, com um grito de pânico a que se segue um período em que manifesta grande ansiedade, com o olhar fixo, sudação, respiração rápida, aceleração dos batimentos cardíacos e movimentos descoordenados. A agitação dura alguns minutos e não cede às tentativas de conforto por parte dos pais.
No terror nocturno, a criança grita – muitas vezes um autêntico grito de terror, mas ao contrário do pesadelo, em que o próprio está assustado, quem fica mais receoso, neste caso, são os pais -, senta-se, está agitada, parece estar a lutar contra monstros ou «possuída», às vezes quase alucinada. Mas não está acordada, como nos pesadelos.
Quando o episódio termina, a criança volta a adormecer e não se recorda do que se passou, quer seja acordada a seguir, quer na manhã seguinte.
O G. passou por uma longa fase de terrores nocturnos, ver um filho a gritar, assustado, a espernear, a bater nas paredes, é simplesmente assustador, e não poder fazer nada para o reconfortar ou aliviar, leva-nos a um sentimento de impotência desesperador.
Até aos 7 anos o G. teve regularmente terrores nocturnos.
As nossas noites eram de desespero e não raras foram as vezes em que me sentei no chão, junto à caminha dele, a chorar...
Aos poucos os episódios foram diminuindo até que cessaram por completo dando lugar a episódios de sonambulismo, menos assustadores e por vezes até divertidos.
A primeira vez foi curiosa porque não percebi de imediato que ele estava a dormir, deambulando pela casa resmungando comigo num monólogo incompreensível.
É mais frequente entre as crianças e, tal como os pesadelos, são parassónias, fenómenos que ocorrem durante o sono e que não o interrompem.
O sonambulismo acompanha-se de movimentos na cama, falar nocturno, deambulação mais ou menos complexa e não é isento de riscos, havendo histórias de indivíduos que sofrem acidentes durante estes episódios.
Durante um episódio de sonambulismo o estado de alerta fica reduzido e verifica-se uma ausência relativa de resposta à comunicação com os outros: um "olhar vazio".
Normalmente ocorrem no primeiro terço do período de tempo de sono (durante o sono profundo), é difícil acordar o sonâmbulo e este pode até ter uma reacção violenta.
Já acordado é muito provável que o sonâmbulo não tenha memória do que sucedeu.
Durante o episódio é comum que a criança fale ou pronuncie algumas palavras incompreensíveis, murmurando, resmungando ou dizendo palavras que normalmente não utiliza.
Durante os "passeios" nocturnos involuntários, a criança pode limitar-se a dar algumas voltas no interior do seu quarto ou a levantar-se e ficar sentada na cama olhando em seu redor, com expressão de admiração ou de surpresa.
No entanto, os episódios também podem ser mais perturbantes: a criança pode começar a correr e a gritar.
Acontece regularmente com o G., sobretudo quando o dia foi mais agitado.
Segundo a pedopsiquiatra que o acompanha, é frequente em crianças hiperactivas, sendo que os episódios tendem a desaparecer com o tempo podendo contudo prolongarem-se até à adolescência.
Em suma, ainda tenho alguns anos de diversão nocturna pela frente.